Prezado Companheiro Professor,

Prezada Companheira Professora,

Neste 15 de outubro de 2013, a Diretoria da APUG-SSind lhe rende homenagem pelo seu trabalho imprescindível. Apesar de todos os motivos que nos sugerem sermos descartáveis, seres de menos importância na ordem do dia, uma espécie de birra no escoar das mercantilidades da vida, ser educador ainda é algo que não se pode dispensar.

Por isso, deixamos aqui nossos parabéns pelo seu dia. E, para sua reflexão, as palavras de Paulo Freire, grande educador brasileiro, daqueles que ainda defendia esperanças pela via educacional. Confiram:

Palo Freire 1

A matriz da esperança é a mesma da educabilidade do ser humano: o inacabamento de seu ser de que se tornou consciente. Seria uma agressiva contradição se, inacabado e consciente do inacabamento, o ser humano não se inserisse num permanente processo de esperançosa busca. Este processo é a educação. Mas precisamente porque nos achamos submetidos a um sem-número de limitações – obstáculos difíceis de ser superados, influências dominantes de concepções fatalista da História, o poder da ideologia neoliberal, cuja ética perversa se funda nas leis do mercado – nunca, talvez, tenhamos tido mais necessidade de sublinhar, na prática educativa, o sentido da esperança do que hoje. Daí que, entre saberes vários fundamentais à prática de educadores e educadoras, não importa se progressistas ou conservadores, se salienta o seguinte: mudar é difícil mas é possível.

Progressista ou conservador intervir no mundo é próprio de mim enquanto presença no mundo. Se progressista, intervenho para mudar o mundo, para fazê-lo menos feio, mais humano, mais justo, mais decente. Se conservador, minha intervenção se orienta na direção da manutenção mais ou menos do que esta aí. A mudança por que me bato é a que se faz para que não haja mudanças radicais, substantivas. O amanhã se reduz à quase manutenção do hoje. A esperança, dessa forma, não tem sentido.

Em lugar dela, o uso de arteirices capazes de ocultar verdades que, se fossem no mínimo adivinhadas ou intuídas pelos oprimidos, poderiam empurrá-los para a luta. É verdade que as coisas não se dão simplistamente. Minha vontade de mudar o mundo nao é suficiente para fazê-lo. Posso, inclusive, contradizer-me na minha prática, obstaculizando a própria mudança. O mesmo se pode verificar com o educador conservador. Em certo momento, sua ação pode trabalhar contra seu projeto ideológico e político de manter as coisas mais ou menos como estão.

Saber, portanto, que mudar é difícil mas é possível é tão fundamental ao educador que, progressista, se engaja na prática de uma pedagogia crítica quando é indispensável a educador ou educadora que, reacionária, se empenha na prática “pragmática” de uma pedagogia neoliberal.

É neste sentido que ambos, o educador progressista como o conservador, precisam de atuar coerentemente. O primeiro, com o seu sonho de transformação do mundo; o segundo, com o seu projeto alienante de imobilização da História. O progressista, criticamente inserido em formas de ação e em políticas pedagógicas realizando-se em coerência com a compreensão da História como possibilidade, o conservador, autoritário, acrítico, de direita ou de esquerda, sem esperança e carente de sonho, perdendo-se, sem muita chance de se encontrar, numa compreensão determinista da História.

Há uma espécie de “nuvem” cinzenta” envolvendo a HIstória atual e afetando, ainda que diversamente, as diferentes gerações – “nuvem acinzentada” que é, na verdade, a ideologia fatalista, opacizante, contida no discurso neoliberal. É a ideologia que mata a ideologia, que decreta a morte da História,  desaparecimento da utopia, o aniquilamento do sonho. Ideologia fatalista que, despolitizando a educação, a reduz a puro treinamento no uso de destrezas técnicas ou de saberes científicos.

A educação já não é formar, é treinar. A pedagogia crítica é um devaneio retrógrado de anciãos sem rumo, apregoa a reação. Para mim, a briga pela atualização do sonho, da utopia da criticidade, a esperança é a briga pela recusa, que se funda na justa raiva e na ação político-ética eficaz, da negação do sonho e da esperança.

Não posso aceitar calado e “bem-comportado” que um bilhão de desempregados com quem o século se encerra sejam considerados uma pura fatalidade deste momento. Nenhuma realidade social, histórica, econômica é assim porque está escrito que assim seja.

Enquanto presença na história e no mundo, esperançadamente luto pelo sonho, pela utopia, pela esperança, na perspectiva de uma Pedagogia crítica. E esta não é uma luta vã.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação. Cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: UNESP, 2000, p.114-116.

A APUG-SSind deseja, com este texto de Paulo Freire, ter honrado você, companheiro, e que a esperança ainda esteja capitaneando a sua prática educativa.

Aproveitamos para informar que iremos comemorar este seu dia numa data próxima, juntamente com a comemoração dos 25 anos de nosso Sindicato. Até lá. E nossos sinceros parabéns.

José Carlos de Freitas

Presidente da APUG-SSind