Nesse momento em que a UnirG finalmente chegou ao status de Universidade, chegou a hora de estabelecermos uma ampla discussão sobre o que a cidade de Gurupi quer verdadeiramente com essa Instituição de Ensino Superior. Chegou a hora da própria comunidade universitária se manifestar e dizer o tipo de Universidade que efetivamente precisa ser construída e que poderá fazer Gurupi avançar ainda mais.

Em trinta anos de existência a UnirG, antiga Fafich, contribuiu com o pleno desenvolvimento de inúmeros cidadãos, profissionais para diversas áreas e impactando a economia da cidade e da região de forma expressiva. Todavia também foi nesse período vitima da corrupção, do mandonismo, do clientelismo, do apadrinhamento, do patrimonialismo, da falta de visão estratégica, do amadorismo e tantos outros vícios políticos presentes majoritariamente em Gurupi e no Tocantins.

Paulo Henrique, presidente da APUG.

Paulo Henrique, presidente da APUG.

As sucessivas gestões da UnirG sempre sofreram com a dicotomia entre gestão acadêmica e administrativa, com o sério problema de possuir um ordenador de despesas sempre indicado e subordinado aos sucessivos prefeitos sem nenhuma escolha democrática e gestões acadêmicas amadoras, que deixaram passar as maiores oportunidades em termos educacionais, que deixaram a UnirG perder cursos, alunos, professores, influência no desenvolvimento regional e capacidade de desenvolvimento de pesquisas, extensão e uma educação de qualidade social.

A todos esses problemas soma-se inúmeros outros provocados pela falta de autonomia plena, por falta de planejamento estratégico, visão de mercado, democracia real e posturas incompatíveis com o objetivo de ser uma entidade decisiva para o desenvolvimento de Gurupi e região.

Nesses trinta anos apesar de termos tido professores dedicados, que buscaram se qualificar com cursos de mestrado e doutorado, todos empenhados em construir uma educação de compromisso social e comprometida com o desenvolvimento de Gurupi e região, muitas vezes os docentes tiveram que suportar acusações de que não gostam de trabalhar, de que ganham muito e trabalham pouco, que querem “matar a galinha dos ovos de ouro”.

Agora mesmo o atual presidente da Fundação Sr. Thiago Benfica insiste em dizer que a Instituição esta com uma Folha de Pagamentos inchada, com um déficit mensal de R$ 104 mil reais e que não consegue arcar com o pagamento de direitos trabalhistas de funcionários por causa dos excessivos direitos dos professores. Para conter isso criou a portaria n˚321, de 25/04/2018 que proíbe os professores de ganhar mais do que o prefeito, ou seja, R$ 15.980,60. Todavia o cargo de prefeito não é um cargo de carreira, não exige titularidade, qualificação para exercício do cargo ou que se aposente com 35 anos de exercício profissional. Já o docente se quiser progredir na carreira é obrigado a fazer especializações, mestrado, doutorado e pós-doutorado, à medida que se qualifica para o desempenho de suas funções pode progredir em termos salariais e profissionais por mérito e porque está submetido a um Plano de Cargos e Salários. Mas para o presidente da Fundação isso é um privilégio, um exemplo de que os profissionais da UnirG ganham altos salários.

A atual gestão acadêmica, que todo empenho realizou para virarmos Universidade, até agora não discutiu efetivamente os vícios e distanciamento da UnirG de sua missão fundamental, até agora não discutiu de forma democrática com a comunidade universitária o que significa a UnirG ser uma Universidade, quais os benefícios que isso trás comunidade universitária, como isso impactará na qualidade educacional, na pesquisa, na extensão, na qualidade de sua infraestrutura, nos laboratórios, na manutenção e criação de novos cursos etc. Enfim, o que podemos efetivamente esperar de seu futuro enquanto uma instituição estratégica para Gurupi.

Todavia uma coisa é certa, não basta virar Universidade para resolver os inúmeros problemas que a nossa IES já vivência hoje. Pelo contrário, nosso futuro pode inclusive estar ameaçado, pois cada vez mais não percebemos um funcionamento democrático das instancias hierárquicas da Instituição, que vem sendo substituída por posturas autoritárias, centralizadoras, incapazes do diálogo franco, aberto e democrático. Universidade não combina com falta de autonomia, democracia, investimentos em ensino, pesquisa e extensão e respeito à comunidade universitária.

O que temos visto é o assedio moral, a perseguição, o protecionismo para alguns e o desrespeito à vontade da comunidade, a exemplo das alterações no regimento acadêmico, onde muitas das propostas discutidas com a comunidade foram completamente atropeladas. Ou ainda o mal funcionamento do Conselho Universitário, que sequer respeita próprio regimento acadêmico.

O Brasil está diante de uma brutal crise econômica, onde os governos estão sendo chamados a implementar nos próximos anos planos de austeridade, jogando nas costas de alunos, professores, trabalhadores administrativos e cidadãos em geral, medidas como o achatamento salarial, privatizações, eliminação de direitos, precarização do trabalho, mais ingerências políticas, destruição de conquistas, politicas autoritárias, perda da capacidade do poder de compra, elevação do custo de vida e empobrecimento dos trabalhadores.

A UnirG não ficará alheia a essa realidade e a comunidade universitária deverá estar atenta para defender suas conquistas, por mais que elas sejam limitadas. Não podemos cair nos engodos e falsas soluções para nossos problemas. Caso contrário, teremos apenas desastres pela frente.

 

              Paulo Henrique Costa Mattos/ Presidente da APUG