Se o guerreiro é forjado conforme a luta, esse primeiro de maio de 2021 é o mais desafiante de toda a história trabalhista brasileira. O Dia de Luta do Trabalhador e da Trabalhadora, embora celebrado com restrições nas ruas vazias, trava uma luta ainda maior nos hospitais, postos de saúde e UTI’s superlotadas, justamente porque o negacionismo e a falta de iniciativas de planejamento estratégico do governo Bolsonaro permitiu o avanço da Covi19, inclusive deixando faltar até mesmo oxigênio e insumos básicos como anestésicos, relaxantes musculares e outros necessários ao processo de intubação de pacientes, algo inédito até mesmo nos governos mais autoritários antes de Jair Bolsonaro. Essa incapacidade administrativa do governo levou Bolsonaro a praticar uma necropolitica, provocando significativamente o crescimento de mortes no Brasil.

Alcançamos mais de 400 mil mortos, chegando no mundo a 3,17 milhões de mortes. Em nosso país são quase 15 milhões de infectados, alcançando mundialmente mais de 150 milhões de contaminados, fora a subnotificação, diante do número meramente estimado.WhatsApp-Image-2020-05-01-at-10

A pandemia é o evento mais dramático que, no entanto, está longe de ser o único que vitima a classe trabalhadora nacional nesse momento. Está em curso um projeto cruel, que já caminhava a passos largos, mas conseguiu imprimir velocidade de cruzeiro com o advento da pandemia.

Mesmo forçadamente distantes do cenário por excelência das passeatas de luta por direitos, a necessidade de mobilização do(a)s trabalhadore(a)s é mais necessária do que nunca. Os movimentos sociais não acontecem apenas nas ruas, haja vista a abundância de ‘lives’ e discussões que têm acontecido nas redes digitais. Metade da humanidade está confinada e a outra metade luta para se alimentar a cada dia. Nas favelas, o povo mostra uma capacidade de organização extraordinária, insuspeita até agora. Os próprios moradores avaliam necessidades mais prementes, recolhem doações e distribuem conforme a urgência de cada família, conferem todos os dias o estado de saúde dos moradores e tomam para si a responsabilidade pela própria sobrevivência.

As menos valorizadas categorias de trabalhadores são hoje mais reconhecidas do que em qualquer outro momento: os  ‘invisíveis’ entregadores, ‘empreendedores de si mesmos’, ou, em visão menos romântica e mais realista, subempregados; os profissionais de saúde, hoje com o heroico nome de ‘linha de frente’, habituados a conviver com baixos salários e precárias condições de trabalho, agora convivendo também com um vírus mortal; as faxineiras, acostumadas a eliminar a sujeira alheia, agora celebradas por quem tem a tarefa de arrumar e limpar a própria casa; os professores, especialmente os infantis, que finalmente têm a importância reconhecida por pais desesperados frente à dificuldade de ensinar e entreter os próprios filhos; garis, caixas de supermercados, atendentes de farmácias e outros.

Quando a pandemia passar, os rentistas – que estão cada vez mais ricos – poderão comemorar a volta dos juros aos patamares anteriores, mas ao(à)s trabalhadore(a)s estará reservada a provável maior recessão da história, ainda mais terrível que a de 1929. Junto com ela, atentados que as elites econômicas têm conseguido aprovar graças à bem sucedida implantação de seus agentes nas estruturas de poder.

Terceirização de contratações no serviço público; reforma trabalhista; da Previdência; o Plano Mais Brasil, formado pela PEC Emergencial (PEC 186/2019), a PEC dos Fundos (PEC 187/2019) e a PEC do Pacto Federativo (PEC 188/2019), que pretende o reequilíbrio fiscal reduzindo jornada e salários do funcionalismo, já em vigor, suspendendo concursos e proibindo progressões funcionais (exceto para categorias como militares, juízes, membros do Ministério Público, policiais e diplomatas).7bba7aa0-5a1e-4c15-bc94-70dec805

Como se não bastasse tudo isso, ainda temos que conviver com a “boiada” passando o rodo em todos os nossos direitos, o que dizer com a reforma administrativa que tramita a galope no Congresso Nacional, entre outras “leis” que cada vez mais precarizam e tiram o mínimo da dignidade do povo brasileiro, que neste momento somam quase 15 milhões de desempregados.

Como combater o ataque do capital contra a classe trabalhadora? A única combinação possível é a que une educação para a justiça social e mobilização. A primeira, veio com a proposta privatista e demolidora, pela MP 905/2019 do Teto dos Gastos, pela criminalização de professores através da Lei da Mordaça e pasmem, da Lei de Segurança Nacional, uma lei criada na ditadura, que está sendo usada pelo atual governo para calar a voz dos críticos e dos que ousam reclamar do negacionismo e da falta de gestão federal, articulando orquestradamente  todo um conjunto de medidas que compõem um projeto maior, que tem a finalidade de alienar a população e aumentar o fosso das desigualdades, além de tentativa de subjugar as Forças Armadas para um projeto pessoal de poder.

Para isso tudo, e contra tantos desmandos e ataques, a classe trabalhadora precisa fabricar o mesmo antídoto ao veneno capitalista com o trunfo que ela tem nas mãos: a sua capacidade de mobilização. Para isso precisamos ressignificar e compreender o Primeiro de Maio como resgate histórico da luta que precisa ser renovada cotidianamente.

Todas as decisões nacionais descambam no âmbito municipal e muitos direitos docentes e dos trabalhadores públicos e privados do Tocantins e de Gurupi estão sendo retirados, esquecidos e suprimidos. Progressões retidas há mais de três anos, recomposições esquecidas desde 2019, sem planejamento de licenças, sem organização financeira para implementação de direitos constitucionais, reforma da previdência em curso para aumento de alíquota e mais arroxo aos aposentados, pensionistas e desilusão para quem ainda está na carreira, ordens judiciais não cumpridas, planos de cargos, carreiras e salários em banho maria, cobranças absurdas e exageradas análogas a assédio moral.

Portanto, só com mobilização, capacidade de mobilizar, engrossar fileiras, poderemos resgatar nossa dignidade, nossos direitos. Mas para isso precisamos e queremos: PÃO, VACINA, SAÚDE E EDUCAÇÃO – para todos e todas. Garantia da vida. Não podemos ter como opção morrer de fome ou morrer pelo vírus. Com informações de ANDES-SN

Ascom/Apug-Ssind

Meu Maio

 

A todos
Que saíram às ruas
De corpo-máquina cansado,
A todos
Que imploram feriado
Às costas que a terra extenua –
Primeiro de Maio!
Meu mundo, em primaveras,
Derrete a neve com sol gaio.
Sou operário –
Este é o meu maio!
Sou camponês – Este é o meu mês.
Sou ferro –
Eis o maio que eu quero!
Sou terra –
O maio é minha era!

Vladimir Maiakovski