Dois fantasmas rondam Gurupi montados em uma moto preta assustando a população e agravando as estatísticas sobre homicídios na cidade. São os fantasmas da violência e da impunidade. Desde janeiro esses fantasmas circulam matando mendigos, jovens usuários de drogas, traficantes, desafetos, concorrentes de bocas de fumo e inadimplentes do mundo dos entorpecentes. Para alguns, bandido bom é bandido morto, então o que está acontecendo é uma benéfica limpeza dos marginais!

Para outros, conservadores mais sutis, isso é resultado das práticas da primeira geração do Programa Bolsa Família, que não trabalha, não tem limites e nem respeitam a família. Mas a verdade é que enquanto a polícia é ridicularizada, voluntariamente ou não, em cada assassinato sobra apenas a certeza de que em Gurupi o extermínio de pobres, pretos e jovens infratores é tolerado pelas autoridades públicas como uma política de higienização e solução eficiente para tirar das ruas criminosos, traficantes e usuários de drogas. Enquanto forem esses os mortos não haverá muita comoção social.

Enquanto cresce o poder paralelo da marginália, do tráfico, a inoperância da segurança pública, a incapacidade de administração municipal de pensar estrategicamente o município, a incapacidade da Câmara de Vereadores de discutir os temas relevantes da cidade, também cresce a miséria, o desemprego, a inflação, as altas taxas de juros, os problemas oriundos da exclusão social, da falta de políticas públicas eficientes e todo um amalgama de elementos conjunturais locais e nacionais que empurra a qualidade de vida da ampla maioria da sociedade ladeira abaixo.

Gurupi hoje é uma cidade de 80 mil habitantes que não possui políticas públicas consistentes de planejamento industrial, de comércio, de incentivo as potencialidades locais. Sequer possui uma secretaria municipal nessa área, tal o abandono e incapacidade da administração municipal. A crise de violência que a cidade ora vive, é uma expressão do abandono administrativo, em que vive amplo contingente social da cidade, que não encontra alternativa ao desemprego, a falta de renda, de lazer saudável, de cultura, da melhoria da saúde, educação e outras políticas públicas fundamentais para o desenvolvimento local. Uma das poucas políticas públicas eficientes é o trabalho desenvolvido pelo Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas III (CAPS AD), um serviço específico para o cuidado, atenção integral e continuada às pessoas com necessidades em decorrência do uso de álcool, crack e outras drogas. Todavia, mesmo essa política pública que visa tratar os dependentes de drogas ainda padece de inúmeros problemas de funcionamento, que vão desde a qualificação profissional da equipe a condições estruturais para enfrentar a verdadeira demanda de usuários de Gurupi e região. Gurupi caminha a passo de ganso e precisa ter um projeto de desenvolvimento macroeconômico e social integrado, capaz de investir na qualificação de suas políticas públicas, em políticas geradoras de empregos, na superação da baixa escolaridade de um grande contingente de trabalhadores, na articulação das universidades aqui instaladas, no fortalecimento do mercado consumidor local. Isso não existe por aqui!

 

Muitos problemas sociais de Gurupi poderiam ser resolvidos por meio de políticas municipais articuladas com a educação, com o lazer e esporte, com a geração de empregos formais, com o fortalecimento do mercado imobiliário, pequenas iniciativas econômicas, criação de novos cursos superiores e técnicos, com o turismo ecológico e até eventos culturais. Todavia continuamos assistindo apenas um jogo de empurra-empurra para saber de quem é a culpa pela perda de vitalidade econômica, pela onda de assassinatos e violência. Mas com certeza a culpa é de toda a sociedade, que continua elegendo políticos ineptos, que não cumprem o que prometem. Que são bons de projetos e falácias, mas uma vez no poder não fazem o que deve!

Os desafios da administração municipal de Gurupi não são diferentes das demais cidades do Tocantins e do país. Envolvem aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais, e tantos outros. Em estudo elaborado pelo Banco Mundial, entre os desafios mais importantes desta década, estão a qualidade do ensino, a eficiência do gasto público, a qualidade dos professores e a educação infantil. Sem dúvida, esses são pontos essenciais, mas é preciso incluir aqui também a qualidade dos nossos políticos, o fim da corrupção, a necessidade do controle social, além do acompanhamento e avaliação das políticas públicas oferecidas. Sem isso continuaremos a ver o crescimento da violência e da barbárie social.

*Paulo Henrique Costa Mattos – é professor da Unirg, vice-presidente da seção sindical Apug-Ssind e segundo tesoureiro da Regional Planalto do ANDES-SN.