Brasil contemporâneo é cada vez mais parecido com o Brasil do passado. Primeiro porque nossa economia está cada vez mais dependente dos desígnios externos, não fomos ainda capazes de criar uma economia verdadeiramente independente, o grande capital continua definindo muito dos rumos do país e a política ainda não é um instrumento de democratização e garantia da justiça social,
Estamos diante de uma grave crise econômica e seja qual for o próximo presidente da República, seja Dilma Rousseff, Marina Silva ou Aécio Neves (levando-se em conta as atuais pesquisas de opinião pública) passaremos por anos conturbados e enormes desafios na condução da política econômica, na implementação das políticas públicas e na preservação das poucas conquistas sociais alcançadas nas últimas duas décadas, notadamente na política salarial e de renda da grande maioria dos trabalhadores.
Mas como as más notícias nunca chegam sozinhas estamos mais uma vez diante de uma nova evidencia de mais um mensalão, dessa vez um turbinado envolvendo os contratos da maior empresa pública brasileira, a Petrobrás, que teria sido entre 2003 à 2012 envolvida em um mega esquema de propinas para funcionários, partidos, políticos, ministros de estado, governadores, senadores, o atual presidente da Câmara federal e do Senado e até mesmo o ex-presidente Lula da Silva.
Se o conteúdo das delações do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa, preso durante a Operação Lavajato, forem verdadeiras estamos diante de um escândalo de corrupção tão gigantesco que farão as denúncias de Roberto Jefferson sobre o mensalão do governo Lula parecer coisa de batedor de carteira e ação de punguistas diante de um tsunami de corrupção “nunca antes revelado no Brasil”.
Mesmo com o país já estarrecido diante de tantos escândalos de corrupção, de ter descoberto que a Petrobrás pagou US$ 1,18 bilhões de dólares pela refinaria de Pasadena nos Estados Unidos (que valia um terço desse valor), de vir assistindo a má condução econômica, o fundamentalismo de mercado, a falta de políticas públicas de saúde, educação e segurança pública de qualidade, a privatizações de empresas públicas, estradas, aeroportos, portos e até poços de petróleo, agora se vê mais uma vez diante de um mar de lama envolvendo grandes empreiteiras, novamente a Petrobrás, o governo e gente graúda da República.
Depois das revelações de compra superfaturada da Refinaria de Pasadena nos EUA, da manipulação das contas da Petrobrás e da impossibilidade de avanço dos trabalhos de investigação das Comissões Parlamentares de Inquérito, controladas por maioria parlamentar governista, sobre os “negócios” da estatal do petróleo brasileira, agora a atuação do Ministério Público Federal colheu do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa mais de 42 horas de gravação, contando detalhes dos desvios nos cofres daquela empresa que podem alcançar uma cifra superior a R$ 10 bilhões de reais.
O Ministério Público Federal conseguiu negociar com o ex-diretor da Petrobrás, que se encontrava preso, uma delação premiada, já que o mesmo estava com medo de acontecer com ele o que ocorreu com Marcos Valério, um dos operadores do mensalão do PT, condenado a mais de 40 anos de prisão. O principal temor de Paulo Roberto era de que ocorresse com ele o mesmo que aconteceu com Marcos Valério, que quando resolveu fazer um acordo com a Justiça o esquema já era todo conhecido.
Para tentar sair da cadeia, ter redução de pena ou conseguir o perdão judicial o ex-diretor da Petrobrás está trazendo ao conhecimento da Justiça informações, comprovações e provas para desnudar a materialidade e autoria de diversos tipos de crimes cometidos por agentes públicos e privados, naquele que parece ser até agora o mensalão II do PT ou um petralhão turbinado envolvendo políticos da base aliada do governo do PT (30 senadores, 25 deputados federais, 3 governadores –RJ, MA e até mesmo o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em acidente aéreo em 13/08/2014), todos supostamente envolvidos por uma rede de pagamentos de propinas.
O mar de lama é tão extenso e profundo e foi revelado a tão pouco tempo antes do 1º turno das eleições que talvez nem tenha tempo de provocar os estragos nas candidaturas a presidência da república. Porém, com certeza esse não será o último escândalo revelado, pois enquanto prevalecer os atuais pilares da política brasileira a corrupção e os mensalões turbinados serão a triste sina de um Brasil esgotado, onde não bastam apenas eleições para resolver nossos problemas mais prementes.
Paulo Henrique Costa Mattos é professor de História e Sociologia do Centro Universitário UNIRG, vice-presidente da Apug-Ssind e segundo tesoureiro da Regional Planalto-ANDES-SN