Uma das coisas mais lamentáveis dos administradores de Gurupi foi sempre falar do que desconhecem e não cumprir o que de fato são suas  obrigações como gestores públicos. Depois de quase vinte anos de desmandos, autoritarismos, politicagens e falta de políticas públicas de fato democráticas, o Sr. Prefeito Laurez Moreira trouxe à tona a esperança de que Gurupi finalmente ficaria livre das práticas mais nefastas da administração pública: administrações sem prioridades e sem planejamento estratégico que priorizasse as políticas públicas fundamentais para o desenvolvimento da cidade. Todavia, depois de nove meses de administração, mais uma vez percebemos que a esperança da maioria daqueles que o elegeram vai rapidamente se esfumaçando, justamente porque permanece à frente da gestão municipal a mesma inércia, falta de foco e escolha errada de bodes expiatórios da má gestão pública.

Digo isso como um daqueles que, nas últimas eleições municipais, votou em Laurez Moreira porque acreditava que ele seria a melhor opção para Gurupi finalmente entrar nos eixos e superar o atraso de suas políticas públicas, a falta de propostas inovadoras e, acima de tudo, amplo diálogo com o funcionalismo público em todos os níveis, inclusive com uma gestão que apontasse, no caso do Centro Universitário UnirG, uma nova realidade para cidade, mais democrática, com mais autonomia e capaz de, enfim, fazer dessa autarquia uma instituição fundamental para Gurupi. Coisa que ainda não aconteceu e parece que não vai acontecer.

Digo isso porque são lamentáveis as declarações do Sr. Prefeito em dizer que a culpa da crise da UnirG é dos professores dessa instituição, que têm o terceiro melhor salário do país e que ganham melhor inclusive que os professores da UFT, que apesar de ganharem menos do que os professores da UNIRG, possuem um desempenho avaliativo muito melhor.

Em primeiro lugar, desafio o Sr. Prefeito a provar suas afirmações e demonstrar quais as instituições, nos moldes do Centro Universitário UnirG, onde os professores ganham salários muito inferiores aos nossos. Em segundo lugar, não há como comparar uma instituição federal como a UFT, mantida por recursos públicos federais, o que não é o nosso caso, que possui amplas possibilidades de desenvolver pesquisas, porque tem infra-estrutura física, automatização de progressões na carreira, valorização de titularidade, laboratórios, materiais, bibliotecas e equipamentos atualizados, que tem reflexo na qualidade de ensino e que impactam nas avaliações externas. Realidade completamente distinta do Centro Universitáro UnirG, que não possui sequer bibliotecas dignas para seus alunos e docentes.

Comparar o Centro Universitário Unirg à UFT é, no mínimo, demonstrar um total desconhecimento da realidade das duas instituições, para não dizer que é uma verdadeira agressão ao bom senso, pois um professor de uma universidade como a UFT, além de ter reconhecimento automático de suas progressões, possuem uma jornada de trabalho completamente distinta, uma vez que, nas federais, um professor com o regime de trabalho de 40 horas faz pesquisa e pega apenas duas ou no máximo três turmas, além de participar de outras poucas atividades não docentes. Sendo que, para isso, um professor com título de Especialista percebe um salário de R$ 2.968,02; um professor com mestrado, um salário de R$ 3.549,94 e um professor com doutorado, um salário de R$ 4.649,65 reais. Mas, lembrando sempre que suas qualificações são automaticamente incorporadas, que todas as suas qualificações são custeadas por recursos do governo federal e que as progressões horizontais na UFT ocorrem a cada dois anos, enquanto na UnirG só a cada quatro anos.

No caso da UNIRG um professor com 40 horas semanais tem que ministrar seis disciplinas diferentes de quatro créditos, participar de atividades de orientação de TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), participar de reuniões pedagógicas de seus colegiados de curso, participar de comissões e conselhos institucionais. Sendo que aqueles que possuem apenas  o título de especialista percebe um salário de R$ 3.162,65, o professor com o título de mestre um salário de R$ 5.515,41 e o professor titular, com doutorado, um salário de R$ 7.220,56.

Para que os cidadãos de Gurupi possam compreender as condições de trabalho de um professor da UFT em relação a um professor da UNIRG, basta visitar os campi das duas instituições, ver as condições dos laboratórios, infra-estrutura física, segurança, bibliotecas, o respeito à legislação trabalhista e o incentivo à pesquisa docente. Ou até mesmo conversar com os alunos, ver se algum aluno da UFT reclama que nem papel higiênico há nos banheiros da instituição.

A prefeitura de Gurupi nunca colocou um centavo de auxilio financeiro no Centro Universitário UnirG, ao contrário do governo federal que vem nos últimos anos fazendo investimentos significativos nas instituições federais. Em Gurupi, ao contrário, a UnirG propicia ao município uma arrecadação substancial de tributos, sem contar seu papel de pólo dinamizador da economia e desenvolvimento econômico e social de Gurupi.

O Sr. Prefeito, antes de dizer bobagens sobre a UnirG, deveria se informar melhor e não buscar nivelar por baixo, o que revela uma estratégia política para manutenção das mazelas de desvalorização do magistério e esconder a responsabilidade do poder público local em apresentar soluções aos graves problemas da instituição UnirG, que ele como gestor maior tem um fundamental papel de garantir sua sobrevivência, qualidade social e desenvolvimento.

Antes de responsabilizar os docentes da UnirG de qualquer culpa pelos descalabros atuais da UnirG, ele deveria perguntar primeiro se os professores da UFT estão satisfeitos com seus salários e não tentar causar mal estar entre os docentes do Centro Universitário UnirG e os professores do município e a comunidade local.

Os professores da UNIRG querem ser parte da solução dos graves problemas da instituição e do município de Gurupi, inclusive no que tange à permanente falta de foco das políticas públicas municipais. Se a opção for a democracia, diálogo e o desenvolvimento local e regional, conte conosco, mas, em hipótese alguma, abriremos mão dos nossos direitos, do respeito à legislação trabalhista e da dignidade do desempenho profissional.

Paulo Henrique Costa Mattos

Diretor de Comunicação da APUG-SSind