A Justiça Argentina condenou, no dia 25 de agosto, 28 pessoas à prisão perpétua por crimes de lesa-humanidade cometidos, antes e durante a ditadura militar, no centro de detenções La Perla, em Córdoba, maior cidade do interior do país. Mais de dez mil pessoas acompanharam o julgamento no lado de fora do tribunal, exigindo a punição dos torturadores.

imp-ult-998407950

O caso “La Perla” envolvia 43 réus e 716 vítimas, das quais 279 estão desaparecidas. O julgamento começou em dezembro de 2012. Segundo a decisão do caso “La Perla”, houve atos de violência e bebês foram roubados de forma sistemática antes mesmo do golpe militar de 1976. A decisão abre precedentes para julgar crimes de lesa-humanidade também no governo civil de Isabela Peron. O caso foi o primeiro que também julgou os delitos contra a integridade sexual das vítimas, e os delitos econômicos, particularmente os cometidos contra o grupo Mackentor S.A., que teve 19 trabalhadores e diretores sequestrados pela repressão.

Marcelo Mario Vallina, 1º vice-presidente da Regional Norte I e um dos coordenadores do Grupo de Trabalho de História do Movimento Docente (GTHMD) do ANDES-SN, ressalta que o julgamento só foi possível devido a uma mobilização permanente da sociedade civil argentina por décadas, que trouxe à população do país uma mudança cultural no entendimento dos direitos humanos. “É um fato muito importante para o mundo, são poucos os lugares em que se julgam os ditadores e torturadores. O veredicto deve servir como incentivo para fazer crescer a luta por memória e justiça no Brasil”, afirma o docente. O ANDES-SN defende a revisão da lei da Anistia e a punição aos torturadores que atuaram durante a ditadura empresarial-militar brasileira. Como parte dessa luta, em julho deste ano, durante seu 61º Conad, o Sindicato Nacional lançou o Caderno 27 “Luta por justiça e resgate da memória – Relatos e debates da Comissão da Verdade do ANDES-SN”.

imp-ult-827591460

Das 58 pessoas inicialmente julgados pelo caso “La Perla”, apenas 43 chegaram ao final do julgamento. Onze morreram e quatro foram afastados da investigação porque as autoridades consideraram que seu estado físico não os permitia enfrentam o processo. Entre os 28 condenados à prisão perpétua, há a condenação de Ernesto Barreiro, ex-chefe de inteligência de La Perla, que estava impune desde 2007, quando foi deportado dos Estados Unidos. Já Luciano Benjamín Menéndez recebeu sua 14º condenação à prisão perpétua, e é o torturador com mais penas máximas acumuladas por conta da ditadura argentina.

Alguns parentes das vítimas, como Silvia Di Toffino, filha de um desaparecido, puderam assistir à sessão de dentro e festejaram o resultado aos gritos de “assassinos” e “acontecerá com vocês como com os nazistas, aonde forem, iremos buscá-los”. O condenado Arnoldo José López, civil que trabalhava no serviço de inteligência do Exército, respondeu: “Nós também [vamos buscá-los]” e apontou o governador de Córdoba, Juan Schiaretti: “Vamos te sequestrar”, gritou ao ser levado do tribunal.

Com informações de CSP-Conlutas e Izquierda Diário, imagens de Izquierda Diário.

Fonte: ANDES-SN