Sem dúvida alguma a criação da antiga FAFICH (Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas) em 1985 representou um avanço substancial na relação educação superior e desenvolvimento de Gurupi e região. Todavia 30 anos depois chegou a hora de estabelecermos uma ampla discussão sobre o que a cidade de Gurupi quer verdadeiramente com essa IES e como a educação ofertada atualmente pela UNIRG pode continuar fazendo Gurupi avançar.
Em trinta anos de existência a UNIRG, antiga FAFICH, contribuiu com o pleno desenvolvimento de inúmeros cidadãos, profissionais para diversas áreas e impactando a economia da cidade e da região de forma expressiva. Todavia também foi vítima da corrupção, do mandonismo, do clientelismo, do apadrinhamento, do patrimonialismo e tantos outros vícios políticos presentes majoritariamente no Tocantins.
A gestão acadêmica do Centro Universitário UNIRG e a condução da Fundação UNIRG, encarregada da gestão administrativa e financeira da Instituição sempre sofreu inúmeros problemas provocados pela falta de autonomia plena, por falta de planejamento estratégico, visão de mercado, democracia real e posturas incompatíveis com o objetivo de ser uma entidade decisiva para o desenvolvimento de Gurupi e região.
Os vícios e distanciamento do Centro Universitário UNIRG de sua missão fundamental são hoje tão expressivo que o seu futuro enquanto uma Instituição estratégica para Gurupi pode estar ameaçado, se em um curto espaço de tempo não houver uma maior qualificação de sua gestão acadêmica, melhoria na qualidade dos cursos oferecidos, maior incidência no desenvolvimento da cidade, efetiva autonomia na escolha dos dirigentes da Fundação UNIRG, respeito às deliberações dos Conselhos, melhores condições de trabalho, fim do amadorismo acadêmico e administrativo e acima de tudo uma ampla e democrática reforma nos seus Estatutos, Regimentos, condução administrativa e acadêmica.
Um dos principais problemas da UNIRG é a falta de apenas um ordenador de despesas, pois o Reitor cuida apenas da parte acadêmica e o Presidente da Fundação da parte administrativa e financeira, gerando com frequência incompatibilidades, distanciamentos, problemas de ingerência política, falta de planejamento estratégico comum, vaidades diversas, dificuldades de relacionamento e acima de tudo reais possibilidades da comunidade acadêmica realizar o controle social dos recursos financeiros e estabelecer uma ampla vinculação desse com suas metas de ensino, pesquisa e extensão.
O Brasil está diante de uma brutal crise econômica, onde os governos da União, estados e municípios serão chamados a implementar nos próximos anos planos de austeridade, jogando nas costas de alunos, professores, trabalhadores administrativos e cidadãos em geral, medidas como achatamento salarial, aumento de mensalidades, eliminação de direitos, precarização do trabalho, mais ingerências políticas, destruição de conquistas, políticas autoritárias, elevação do preço dos alimentos e do custo de vida, inflação e empobrecimento dos trabalhadores.
Nesse contexto em síntese, o plano das administrações públicas é resolver a crise, aprofundando a exploração dos trabalhadores, contendo aumento salariais, ampliando a ingerência política, privatizando empresas públicas, diminuindo a democracia em todos os níveis. A UNIRG não ficará alheia a essa realidade e a comunidade universitária e de Gurupi deverá estar atenta para defender suas conquistas, por mais que elas sejam limitadas. Caso contrário teremos a frente apenas desastres!
Se a história serve para alguma coisa devemos lembrar que as crises são momentos de mudança. Só que essas mundanças nem sempre são para uma situação melhor. De uma crise econômica e uma guerra mundial surgiu a primeira revolução socialista, a de outubro de 1917 na Rússia, mas também, de uma grande crise econômica surgiu o fascismo alemão, o nazismo, encabeçado por Hitler. Quer dizer, qualquer crise pode contribuir para a mudança, se existirem forças políticas capazes de influenciar mudanças reais e melhores, caso contrário, em qualquer nível, sobrarão apenas autoritarismo, manipulação, injustiça, soberba e falta de democracia real. No caso da UNIRG isso nos fará menor e pior. No caso de Gurupi veremos a farsa se repetir como tragédia.
Paulo Henrique Costa Mattos, é professor de História e Sociologia da UNIRG, vice-presidente da Apug-Ssind e segundo tesoureiro da Regional Planalto do Andes-SN, phcmattos@ibest.com.br