Há aqueles que gostam de poesia… porque acham os versos uma coisa bonitinha. Há aqueles que gostam de alguns poemas, sobretudo quando os instrumentalizam a favor de suas retóricas. E os usam de escora para passar sermão nos outros… ou seja, para fazer o poeta xingar o seu desafeto no seu lugar. Há, no entanto, aqueles que lêem um poema e ficam com ele, num silêncio de reverência, porque ali está todo o seu criador, mesmo que na não pouco evidente fragmentação de um poema.

O uso do poema pelo leitor nunca comprometerá o poeta. Porque o poeta, certamente, nunca disse o que ele leu. Mas como “é o leitor que escolhe o seu poeta” (segundo Mario Quintana), não há nada de errado em querer atiçar os outros com a letra alheia. Pelo simples fato de que a seleção de um poema já é pura apropriação do poeta e não o poeta em si.

Neste momento de luta, em que nós nos colocamos na reivindicação de direitos certos, líquidos, evidentes e fundamentais, de repente começam o atirar de versos e canções. Que bom que isso ocorra! Não sabemos se a poesia ganha com isso! Mas, com toda certeza, ganhamos em conteúdo bom, elevado. Afinal, a boa poesia deve fazer refletir e embatucar.

Por isso, passaremos a postar alguns poemas de autores ilustres. Com o reconhecimento da instrumentalização apontada acima. Mas, se alguns podem, por que não nós.

O primeiro é do poeta José Paulo Paes (1926-1998), poeta paulista, com obra reconhecida no cenário literário brasileiro.

 

SEU METALÉXICO

economiopia

desenvolvimentir

utopiada

consumidoidos

patriotários

suicidadãos

Fonte: PAES, José Paulo. Melhores poemas. Seleção Davi Arrigucci Jr. São Paulo: Global, 2003, p.131.

José Carlos de Freitas

Presidente da APUG-SSind