Opinião do prof. Paulo Henrique Mattos sobre a participação da APUG no 39º Congresso do ANDES e a importância dos debates para fortalecimento da base dos docentes na UnirG
Novamente a APUG conseguiu enviar uma representação de Delegados e Observadores a um Congresso Nacional do ANDES, desta vez o 39° Congresso, realizado em São Paulo, num contexto muito difícil para os professores brasileiros em todos os níveis. Estamos vivendo um processo planejado de corte de verbas da educação das universidades e escolas públicas, tentativa de destruição da carreira docente, política de proliferação de escolas militares, transformação da educação em mais uma mercadoria capitalista a serviço da voracidade burguesa pelo lucro, pelo aprofundamento das políticas neoliberais, a exemplo da reforma da previdência, da redução dos direitos trabalhistas, ampliação do saque dos recursos naturais e transformação do país em uma neocolônia globalizada, cada vez mais dependente e submissa ao imperialismo norte-americano. Tudo isso feito com a forte precarização e uberização do trabalho, implantação de um governo de extrema direita, autoritário, com forte penetração midiática e com intenso uso de fake news destinado prioritariamente a uma base protofascista e evangélica pentecostal.
A conjuntura extremamente negativa aos trabalhadores da educação e ao povo (inclusive com crescimento do trabalho escravo), da violência urbana e do campo, do desemprego, tentativa de desmonte da legislação trabalhista, ainda não foi suficiente para que os docentes locais ou ligados a estrutura federal gerassem amplas mobilizações em defesa de seus direitos e das liberdades democráticas.
Na UnirG inclusive, ainda há um forte apoio as políticas do governo Bolsonaro, como se a supressão de direitos e os problemas locais não tenham nada a ver com as políticas autoritárias em andamento no país, ou que estejam completamente desvinculadas do que se passa no mundo.
A participação dos delegados da APUG no congresso é, e será fundamental para preparar a nossa resistência nos próximos meses com relação ao aprofundamento da reforma da previdência nos estados e municípios, a estabelecer a estratégia coletiva contra a destruição da carreira docente e contra o fomento de uma universidade sem democracia, sem autonomia e cada vez mais tecnicista e sem compromisso social.
A atual diretoria da APUG, como último foco de trincheira de resistência, continuará sendo classista, de lutas, sem medo de demonstrar seu compromisso ideológico com a luta de classes e o combate ao liberalismo, ao neoliberalismo, ao fascismo e a regressão social, bem como com a despolitização, que ainda faz com que muitos assalariados se vejam como parte da elite, porque ganha um salário acima da média da grande maioria dos trabalhadores, mas se esquecem que elite não é assalariada, não compra casa, carro, roupa ou comida a prestação, tampouco viaja em pacotes da CVC.
Esses vão acabar descobrindo que quem vive de salário e depende da iniciativa privada ou do serviço público, não terá esperança em nada, se não se organizar, se não lutar, se não fortalecer sua condição de classe trabalhadora, vão pagar cedo ou tarde um alto preço, em termos de renda, saúde, condições de trabalho, dignidade e direitos humanos mais elementares.
Prova disso é o total descaso com nossos direitos na UnirG, como recomposição salarial, progressões, retroativos, licenças prêmio, adicional noturno, insalubridade e outros, que estão sendo retirados ou deixados de lado pela atual gestão da Fundação, que se preocupa mais com tijolos e tintas do que com o bem maior, que é o servidor, o docente, o técnico administrativo. Precisamos ficar atentos porque até o mês de junho a nossa previdência vai ser mudada. É o prazo dado por Bolsonaro, para que estados e municípios que possuem regime próprio de previdência se adequem à reforma aprovada recentemente.
E, infelizmente, toda reforma desde 2019, seja em nível federal, estadual e municipal, só tem se preocupado em atender ao capital em detrimento do social e da classe trabalhadora. E embora muitos docentes não se achem trabalhadores, só perceberão que o são quando sentirem no bolso e na falta de ascensão na carreira e na precarização do trabalho docente, que caminha a passos largos na UnirG, seja para concursados e contratados. Como exemplo, temos a declaração infeliz do ministro Paulo Guedes, que chamou a todos os servidores de “parasitas”, ressaltando o “grande apreço”, que tem por todos servidores públicos do país, seja na esfera federal, estadual ou municipal. Seja do jeito que for, estamos fadados a voltar para a “senzala”, e ao que parece, estamos aceitando passivamente a chibata e a espora.
Como diria um jornalista tocantinense, Salomão Wenceslau: “É. Pois é. É isso aí”.
Por Paulo Henrique Costa Mattos – Professor da UnirG, ex-presidente da APUG e delegado da seção sindical no 39º Congresso Nacional do ANDES-SN