Nesse sábado (09), em referência ao Dia Internacional da Mulher, a Diretoria da APUG organizou uma roda de conversa com o tema “A realidade da mulher no mundo atual: Um ciclo de debates sobre feminicídio, violência contra a mulher, sua realidade e direitos”, que teve início às 14h e terminou 17h30. O evento contou com a presença de mulheres que representam diferentes classes, como sindicatos, Centro de Direitos Humanos e Promotoria de Justiça.
O presidente Paulo Henrique e a diretora de Comunicação Laslei, iniciaram o evento dando uma breve introdução ao assunto e explicando a sua importância. Em seguida, Paulo Henrique leu um poema de sua autoria dedicado à sua sogra que, segundo ele, foi uma das mulheres mais importantes em sua vida.
Após a abertura, a palavra foi passada à promotora de Justiça Criminal de Gurupi, Jacqueline Orofino, que também atua como coordenadora do núcleo Maria da Penha do Ministério Público do Tocantins. Algumas das suas observações foram sobre o quanto a violência contra a mulher pode vir de quem menos se espera, como o marido ou namorado da vítima.
Outra convidada foi Rosenildes Dias, que falou um pouco sobre seu trabalho como coordenadora do CDHC (Centro de Direitos Humanos de Cristalândia). Rosenildes disse que apesar de atender qualquer caso de ameaça aos Direitos Humanos, lá, a maior demanda é de casos de violência contra a mulher. Disse ainda, que o ditado popular “Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher” não serve para ela, pois a entidade se dedica a interferir em qualquer ameaça aos direitos da mulher, principalmente se for dentro da própria casa.
Depois foi a vez de Luciléia Barbosa, presidente do SISEMG (Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Gurupi) que falou do drama sofrido pelas servidoras públicas principalmente as que atuam em cargos considerados “inferiores” e deu como exemplo os serviços gerais (SG). Luciléia relatou que existem inúmeros casos de desrespeito, assédio físico e moral, entre outras violências que ocorrem principalmente às profissionais de SG. Um agravante é que muitas vezes, por não conhecer leis como a Maria da Penha, não denunciam seus agressores.
A presidente do SINTET (Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Tocantins) Gabriela Cardoso, também participou falando do assunto sob sua perspectiva como professora do Ensino Fundamental, e relatou que algumas crianças reproduzem em sala de aula, o comportamento violento que os pais têm com as esposas em casa. Disse ainda que é necessário um trabalho de educação acerca desse tema.
Neila Nunes representante da SESDUFT (Seção Sindical dos Docentes da Universidade Federal do Tocantins) de Porto Nacional, elogiou a iniciativa da APUG em levar ao público essa questão social tão relevante. Neila lembrou que o Dia da Mulher não é simplesmente uma data comemorativa, mas sim um dia para refletir sobre as lutas que as mulheres do passado enfrentaram, para que as mulheres de hoje chegassem onde estão.
A partir daí, a conversa fluiu entre convidados e público. Houve questionamentos a respeito da eficácia de leis e medidas protetivas e sobre as garantias que a justiça dá às vítimas de qualquer tipo de violência. A promotora Jacqueline esclareceu que atualmente existe uma norma inserida na lei Maria da Penha, que torna crime e prevê detenção àquele que descumprir a medida protetiva.
Entre o público, estava Ana Júlia Araújo, uma estudante do Ensino Médio que participou contando sobre a realidade que acompanha em meio a outras adolescentes de sua idade. Ela disse que vê muita desunião e rivalidade entre as garotas com quem convive e falou que isso pode ter origem ainda na infância, quando mães incentivam suas filhas a “competirem” com outras meninas em beleza ou coisas da moda. A estudante comentou que tenta mostrar para as colegas que “mulher bonita, é mulher junta”, disse ela.
Lucas Peres, acadêmico do curso de Letras, também esteve na conversa, e contribuiu falando que todos precisam estar alertas às violências “silenciosas”, aquelas que envolvem o psicológico e só a vítima sabe. “Muitas vezes, um casal parece feliz, unido, mas em casa, a mulher sofre por agressão psicológica, moral.” Declarou.
A professora do Direito, Kárita Pereira, retomou a questão sobre educação. Disse que as instituições, acadêmicos de diversos cursos, professores e escolas precisam se mobilizar e tratar de assuntos como esse com maior ênfase, levando informação ao ambiente escolar e aos bairros, pois muitas vezes o que separa a vítima da denúncia, é a falta de conhecimento sobre seus direitos e seu papel na sociedade. Também, o agressor surge de uma cultura machista e de sua falta de consciência sobre a importância da mulher.
Outra realidade citada foi uma das situações frequentes vistas na Defensoria Pública do município. O professor Kita Maciel, que trabalha na área, disse que mulheres vítimas de agressão pelo próprio parceiro, dias após denunciarem, retornam à Defensoria fazendo retratação, ou seja, retiram sua denúncia. Na maioria dos casos, isso ocorre por dependência financeira ou emocional.
Entre outras contribuições, o evento terminou com uma confraternização para os participantes, onde continuaram conversando sobre o assunto e discutindo ideias que surgiram no decorrer da tarde. Segundo o presidente da APUG, Paulo Henrique Mattos, “Esse foi sem dúvidas um dia de grande importância para todos que estiveram presentes. Essa conversa nos faz notar o quanto esse tema precisa ser continuamente discutido e levado a outros lugares e públicos, pois as violências e o preconceito ainda são graves problemas enfrentados pelas mulheres.
ASCOM/APUG-SSind