A concentração da mídia, os desafios e meios para a comunicação sindical foram temas de seminário organizado pela Associação dos Professores do Ensino Superior de Juiz de Fora (Apes-JF Seção Sindical ANDES-SN). O evento aconteceu na sexta e sábado (2 e 3), em Juiz de Fora (MG), e contou com a participação de seções sindicais do ANDES-SN da Regional Leste e de representantes de sindicatos locais.
Na sexta-feira, o professor Paulo Roberto Figueira Leal, da Faculdade de Comunicação Social da UFJF abriu o seminário com a palestra “Concentração da Mídia, Obstáculo à Democracia”. O docente abordou o oligopólio brasileiro dos meios de comunicação de teledifusão, concentrado nas mãos de poucas famílias, e o impacto que a falta de regulamentação e democratização da mídia no país têm para a democracia brasileira.
Leal ressaltou a importância em pautar esse tema para inclusive avançar no debate sobre a democracia no país. “Rádio e teve ainda são os veículos que alcançam, universalmente, a nossa sociedade. Por uma escolha consciente de quem desenhou o sistema, [a concessão] é dada às empresas privadas. E, sobretudo, isso se reflete no sistema político do Brasil. Se fizermos um mapa da oligarquia política do Nordeste, podemos ver quem detêm a concessão da Rede Globo nos estados. No Alagoas, a família Collor, no Maranhão, a família Sarney, no Ceará, a família Jereissati, na Bahia, a família Magalhães e por aí vai”, elencou.
De acordo com o professor, o maior perigo é que outras vozes e opiniões não encontram espaço para serem difundidas nos veículos de massa, o que faz com que a população acabe, em esmagadora maioria, com apenas uma visão sobre assuntos determinantes da nossa sociedade, como por exemplo, as reformas da Previdência e Trabalhista.
“Isso é um dano à democracia, pois frações muito significativas da sociedade não encontram canais de vocalização”, reforçou, lembrando que a única área que não registrou nenhum avanço após a redemocratização do país, em 1988, foi a comunicação.
“Se há uma área em que não se avançou nada é essa. Não se avançou com um marco regulatório, que permita sonhar com um país em que poucas famílias não controlem toda a informação que é oferecida para a sociedade pelos meios de comunicação de massa”, comentou.
Mesmo considerando uma realidade distante, Leal alertou para a necessidade de se manter esse debate em pauta. “Pode ser que em algum momento haja condições [de um marco legal para regulamentação dos meios], e se estivermos desmobilizados, se não estivermos preocupados atentos em relação a esse tema, aí que não vai ser possível aproveitar as poucas janelas de oportunidade que eventualmente podem se abrir. É isso que nos obrigada a discutir esse tema, sob pena de não fazer, impedirmos que, quando superarmos os modelos regressivos que estão sendo impostos, em algum momento possamos retomar de outro patamar essa discussão”, completou.
Comunicação Sindical
No dia seguinte (3), as jornalistas Claudia Costa, da CSP-Conlutas, e Renata Maffezoli, do ANDES-SN, abordaram os desafios para a comunicação sindical, destacando os diferentes meios e possibilidades de disseminação de informação das entidades, junto aos sindicalizados, mas também aos demais trabalhadores e à população em geral.
A necessidade de conhecer o público-alvo e as melhores ferramentas para alcançá-lo, além da compreensão das capacidades e limitações de cada instrumento, bem como as elaborações de um plano de comunicação e de um planejamento estratégico foram apontadas como essenciais para se criar canais de diálogos efetivos. Foi ressaltada a importância de se manter equipes com profissionais capacitados e equipamentos adequados. No período da tarde, as jornalistas realizaram uma oficina com os presentes, para detectar as principais dificuldades encontradas pelas entidades sindicais, e ainda, apresentaram informações e orientações sobre como melhor utilizar a rede social Facebook.
“O que motivou a realização do seminário foi a decisão que a diretoria tomou de atualizar a política de comunicação da ApesJF SSind, entendendo que a comunicação é estratégica para a condução da política do sindicato, sobretudo num momento importante desse, em que a conjuntura está apontando para o acirramento das lutas de classe e dos interesses que os trabalhadores têm”, explicou Rubens Luiz Rodrigues, presidente da Seção Sindical.
O docente ressaltou que foram convidados para participar do evento tanto sindicatos locais quanto as seções sindicais da Regional Leste do ANDES-SN. Além da Apes-JF SSind., também estiveram presentes as associações dos docentes das universidades federais de Viçosa (Aspuv SSind.), de Lavras (Adufla SSind.) e de São João del Rei (Adfunrei SSind.), além de representantes de sindicatos de outras categorias de Juiz de Fora, como servidores públicos, professores da rede básica, médicos e trabalhadores em telecomunicação, e movimentos sociais.
“O seminário atendeu prontamente às nossas expectativas, conduzindo uma discussão muito interessante por parte dos palestrantes, desde o ponto de vista da conjuntura política, até o uso das tecnologias, para estreitar a comunicação com os docentes e com os sindicatos da cidade”, conclui o presidente da Apes-JF SSind.
Fonte: ANDES-SN