Toda tragédia nos faz pensar o quão frágil é a vida e o quão irracionais somos em determinados momentos. Nesta semana, assim como todos os brasileiros, senti a dor e me solidarizei com os familiares das vítimas e com o povo de Chapecó. Mas a linda trajetória da Chapecoense me fez refletir sobre uma situação nossa, de Gurupi, que certamente não chega a ser uma tragédia, mas mostra um grau de nossa irracionalidade.
A Associação Chapecoense de Futebol foi fundada em 1973, ou seja: em apenas 43 anos de existência um time de futebol de uma pequena cidade do interior do Brasil conseguiu fazer uma história de sucesso, muito diferente da história de vários outros times brasileiros.
No ano de 2012 a Chapecoense ainda estava na final da série C e em 2014 chegou à elite do futebol brasileiro. Realmente, uma trajetória relâmpago e fruto de planejamento e união de muitas pessoas em torno de um só objetivo.
A grande lição que a Chapecoense nos deixa é a força da pertinência. Todos na cidade se sentiam (e se sentem) pertencentes do ideal, ou, partes importantes do sonho.
Com certeza isso só pode acontecer por não existir divisão, por não haver grupos que se colocam como únicos ou mais importantes nas ações que são na verdade da sociedade. E todos participam direta e indiretamente.
É certo que isso só pode ocorrer se existir transparência, se existir solidariedade, se existir democracia. Também só pode acontecer se a ética e a moral forem base do planejamento e principalmente das ações.
Assim, a Chapecoense é um raro exemplo de administração nesse país; um time que não tem dívidas e paga rigorosamente em dia salários e fornecedores, inclusive instituiu o 14º salário para os colaboradores.
Nesse ponto alguns podem estar se perguntando: mas o que isso tem a ver com a Fundação e Centro Universitário UnirG?
A UnirG deveria ser (na verdade é) um projeto da sociedade de Gurupi. Então por que nunca conseguiu dar à sociedade deste município o sentimento de pertinência? Eu acredito que por não conseguir internamente se unir em torno do mais importante: do próprio sonho que é a construção efetiva de uma Universidade em Gurupi.
Não é admissível que em uma organização pública existam grupos divergentes que se reúnam somente em torno de si próprios; não é possível que em uma Instituição de Ensino Superior algumas pessoas formem grupos que se ataquem; não é aceitável que pessoas cunhem outras de “corja”. Não dá para unir uma sociedade desunida internamente.
Esse tipo de atitude serve somente para enfraquecer um planejamento, um ideal. Ninguém pode se dizer dono da verdade e da razão. A pior situação de uma organização é quando não se possui ou não se aceita ideias contrárias, pois nesse contexto o erro é a única certeza que se pode ter.
Podemos, sim, ter divergências de ideias, ou ter estratégias diferentes para chegar ao objetivo, mas nunca divergências entre pessoas. Não é preciso salvadores da pátria nas instituições; e não é possível viabilizar um ideal quando se percebe que a organização fica em segundo plano, pois no primeiro plano estão os interesses particulares.
A política brasileira não vai bem justamente porque o interesse privado está na frente do interesse público. E isso impede que a sociedade consiga sentir-se pertinente ao plano de uma organização pública.
Então, o que quer dizer o 1 no placar?
Porque tivemos um (1) momento em que o nosso ideal parecia que ia acontecer, exatamente quando se decidiu criar uma Universidade em Gurupi. Naquele momento a UnirG foi o principal objetivo, mas que durou pouco, pois logo após os primeiros resultados positivos algumas pessoas sentiram-se donos do sucesso. Foi aí que a coisa desandou e virou goleada.
Longe de mim querer comparar nossa situação à tragédia que matou tantas pessoas naquela serra da Colômbia no início da semana. Eu só pensei que o exemplo de sucesso da Instituição Chapecoense deveria servir de modelo pra todos nós.
Por: Ricardo Almeida
Administrador de Empresas, professor, doutor em Comunicação, diretor da Apug-Ssind e articulista. Residente em Gurupi – Tocantins.