Esta foi a síntese da mesa que debateu “Conjuntura, lutas sociais e educação”, na abertura do Encontro Nacional de Educação, no sábado pela manhã
A conferência que abriu os trabalhos do Encontro Nacional de Educação (ENE), no sábado (9), pela manhã tinha como objetivo subsidiar os grupos de debates que aconteceriam à tarde. A mesa com o tema “Conjuntura, lutas sociais e educação” foi composta pela professora mexicana Maria Luz Arriaga, pelo professor do Instituto Federal de São Paulo, Valério Arcary, e pelo professor da UFRJ, Roberto Leher.
A mediação feita pela presidente do ANDES-SN, Marinalva Oliveira, elencou os eixos centrais que permeariam a mesa e todas as discussões do Encontro: privatização e mercantilização, financiamento, precarização das condições de trabalho, acesso e permanência, democratização da educação, passe livre e transporte público. “Esse Encontro foi aprovado nas entidades nacionais e a partir das discussões e acúmulos feitos pela base. O nosso objetivo central e construir a unidade com os movimentos populares em defesa da educação pública”, disse Marinalva.
Apug presente
Os diretores da Apug-Ssind, Joel Pinho e Gilberto Correia da Silva, representaram a seção sindical no evento, tanto na edição regional realizada em Gôiania no final de julho, quanto no Encontro Nacional realizado no Rio de Janeiro. Durante assembleia geral extraordinária dos professores da Unirg, realizada na tarde desta segunda-feira (11/8), o professor Joel fez uma breve explanação e a importância do debate, especialmente sobre as muitas críticas e as reivindicações sobre o novo PNE – Plano Nacional de Educação, recentemente sancionado pela Presidente Dilma Rousseff.
Ataque é internacional, as lutas também são
A professora Mariluz Arraiga, da Universidad Nacional Autónoma de Mexico (UNAM) chamou de “tsunami neoliberal” a série de contrarreformas impostas à educação, como os critérios de produtividade e “qualidade” impostos pelas empresas que ganham cada vez mais espaço no ramo educacional. “Está em jogo o que conhecemos como educação pública e a continuidade da nossa profissão como professores e professoras. Querem nos roubar conceitos fundamentais. Temos que trabalhar coletivamente”, ressaltou.
Segundo a professora, a educação na última década tem sido vista como negócio em várias partes do mundo. Os ataques recorrentes à educação e a movimentos que se opõem à mercantilização da educação têm dois claros objetivos: “Primeiro, porque é um grande negócio. E depois porque necessitam se apropriar dos valores que temos para expandirem a agenda do capital”, alega.
A professora que integra a coalizão internacional em defesa da educação pública da qual participam estudantes, professores e representantes sindicais do México, EUA e Canadá, frisou que diante de tais ataques a defesa da educação pública é tarefa de professores, estudantes e de todos os trabalhadores da educação. “Por isso, este encontro é estratégico”.
De acordo com Mariluz, o desafio é encontrar meios de atuar localmente, mas em uma perspectiva internacional, avançando na constituição de um plano de lutas com uma agenda definida. Sobretudo neste momento de criminalização dos movimentos sociais. “Para isto”, diz a docente, “se faz urgente e necessária a unificação das lutas”.
Novo patamar de mobilização
O professor Roberto Leher, da Faculdade de Educação da UFRJ, traçou um perfil dos novos setores que operam na educação. De acordo com o docente, os objetivos desses grupos são classistas: “Há um entendimento de que a educação é necessária para socializar as novas gerações, de maneira que os indivíduos entendam que a sociedade é um organismo, onde alguns são braços e pernas. Os que serão o cérebro desse organismo receberão outra educação. Este é o primeiro objetivo, diferenciar a educação entre quem manda e quem executa. É uma ação de classe”.
O segundo objetivo, para Leher, seria o de converter a educação em uma atividade de serviço, “uma nova fronteira para o capital”. “A principal ofensiva dos setores dominantes foi exatamente no campo da educação, atualmente corporações financeiras estão assumindo o controle da educação. O grupo Kroton domina 1,5 milhão de estudantes – mais do que as 60 universidades federais do país juntas”.
O terceiro eixo é difundir para a sociedade que este projeto de educação é para todos, não deixando transparecer que é somente para poucos.
O Encontro Nacional de Educação, para Roberto Leher, demonstra que estamos no momento de construirmos nosso próprio projeto de educação e é preciso unir esforços com essa perspectiva. Vamos começar a dar materialidade a esse novo marco da educação pública”, finalizou.
Ações do Banco Mundial
Valério Arcary, do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), chamou a atenção para as ações globalizadas de ataques à educação e aos trabalhadores. “O vocabulário é o mesmo em todo o mundo: meritocracia, produtividade, avaliações constantes. É um pacote do Banco Mundial que está sendo implementado. A diferença está apenas na velocidade em que esses pacotes se desenvolvem nos diferentes lugares”.
Arcary afirmou que há uma disputa ideológica em jogo e que é preciso que os movimentos sociais organizados entrem nessa disputa: “Os governantes responsabilizam a população pelos fracassos dos serviços essenciais. É como se os governantes fossem iluminados e que o povo não prestasse. Isto é uma guerra ideológica. Podemos ganhá-la, mas é preciso fazê-la. Caso contrário, nossa juventude vai assimilar o discurso opressor e achará que a responsabilidade pelos fracassos é individual, quando sabemos que é um problema social”.
Ele conclamou os presentes a somarem esforços para transformar as essas ideias em ação. “Nosso princípio deve ser muito objetivo e claro: nenhum centavo de dinheiro público para a educação privada”, sentenciou.
Saudações internacionais
Secretário Geral do Sindicato dos Professores da Palestina, Ahmad Anees Sihwil, saudou os participantes e se disse emocionado com as manifestações de apoio ao povo palestino. “Vou levar esse recado ao meu povo e isso nos dará forças para continuar lutando”, comentou, emocionado com a bandeira palestina que teve lugar de destaque na mesa de abertura do ENE.
Nara Cladeira, representante do SUD (Sindicato Unitário da Educação), entidade francesa de trabalhadores da área da Educação, ligada à União Sindical de Solidariedade, o Solidaires, destacou a importância do encontro, principalmente num momento em que a educação em todo o mundo sofre com o processo de mercantilização e exploração extrema do capital, por isso “esperamos que na segunda-feira [quando acontece a reunião internacional] tenhamos condições de propor uma luta concreta”, reforçou.
Tanto Ahmad quanto Nara participam como convidados do ENE e, na segunda-feira (11), estarão presentes na reunião internacional que debaterá a unificação e internacionalização da luta em defesa da educação.
Fonte: ANDES-SN