Publicamos aqui dois poemas de Bertold Brecht (1898-1956), literato e dramaturgo alemão, intelectual engajado, que se destacou por uma poesia de forte cunho político e crítica social. Escolhemos dois poemas seus:

QUEM NÃO SABE DE AJUDA

Como pode a voz que vem das casas

Ser a da Justiça

Se nos pátios estão os desabrigados?

Como pode não ser embusteiro aquele que

Ensina aos famintos outras coisas

Que não a maneira de abolir a fome?

Quem não dá pão ao faminto

Quer a violência.

Quem na canoa não tem

Lugar para os que se afogam

Não tem compaixão.

Quem não sabe de ajuda

Que cale.

QUEM SE DEFENDE

Quem se defende porque lhe tiram o ar

Ao que lhe apertar a garganta, para este há um parágrafo

Que diz: ele agiu em legítima defesa. Mas

O mesmo parágrafo silencia

Quando vocês se defendem porque lhes tiram o pão.

E no entanto morre quem não come, e quem não come o suficiente

Morre lentamente. Durante os anos todos em que morre

Não lhes é permitido se defender.

Fonte: BRECHT, Bertold. Poemas 1931-1956. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Editora 34, p.73-74.

José Carlos de Freitas

Presidente da APUG-SSind