Coordenado pelo professor Wirlley Quarema, o quarto encontro do semestre do Curso de Extensão em Filosofia, Literatura e Cinema, que é promovido pela Apug há 12 anos em parceria com os cursos de Direito, Educação Física, Pedagogia, Letras e Psicologia, foi realizado no último sábado (15/05), sendo muito concorrido e enriquecido com a exibição em pré-estreia do filme “Servidão”, de Renato Barbieri, que ainda teve a honra de contar com o cineasta como debatedor do filme e das razões que o levaram e o impulsionaram a produzir e dirigir filmes como Servidão e Pureza, outra obra ainda inédita em termos comerciais, que foi exibido no terceiro encontro do Filosofia e Cinema.
Servidão
Ainda que não tenha sido lançado oficialmente, o filme suscita uma realidade latente vivida nas áreas rurais dominadas pelos latifundiários, desnudando a realidade do campo brasileiro, denunciando as atrocidades cometidas sem que a maioria da população brasileira saiba do verdadeiro massacre e regime escravagista vivenciado em nossa contemporaneidade, muitas vezes com a conivência dos políticos, que dominam as regiões agrárias dos rincões brasileiros e usam a atuação política para camuflar os reais interesses, aumentando ainda mais a violência e o das violações dos trabalhadores rurais, embora tenhamos também a escravidão contemporânea nas grandes metrópoles brasileiras.
Convidados
Além do diretor e roteirista, Renato Barbieri, participaram como debatedores o frei franciscano e agente da Comissão Pastoral da Terra, Xavier Plassat, que é formado em Ciências Políticas, Econonomia e Administração (Paris), além de ser frade dominicano com estudos de filosofia e teologia na cidade Lyon; Jônatas Andrade, juiz do trabalho, diretor de Direitos Humanos da Amatra 8- Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 8ª Região – Pará e Amapá8 e o também juiz do Trabalho, Vanilson Rodrigues Fernandes: ex-Auditor Fiscal do Trabalho.; Mestre em Direito, Políticas Públicas e Desenvolvimento Regional e Graduado em Cinema e Audiovisual.
Impressão
Sobre sua participação no encontro, Vanilson Rodrigues Fernandes afirmou que gostou do formato proposto pela Apug na promoção do evento. ‘Assistir ao filme e depois debatê-lo permite compartilhar com os presentes a experiência coletiva da prática cinematográfica. Os debates trouxeram à lume questões relevantes sobre o tema do trabalho escravo na região norte e de minha parte procurei abordar a necessidade de questões como a da escravidão contemporânea ser objeto de manifestação artística, como no caso do filme ‘Servidão’”.
Em sua intervenção, Vanilson Rodrigues Fernandes mencionou ainda o romance “Memórias Póstumas de Bras Cubas”, de Machado de Assis, especificamente o capítulo referente ao vergalho praticado pelo ex-escravizado Prudêncio contra um escravizado, “com o fito de demonstrar que a escravidão e a violência foram práticas formadoras da cultura nacional, além de fazer uma pequena referência também à obra “Memorial de Aires” sobre as impressões do protagonista acerca do dia 13 de maio de 1888”.
O magistrado mencionou ainda a luta contemporânea contra a escravidão no norte do Brasil, capitaneada, principalmente, por religiosos, como o bispo Pedro Casaldáliga, dentre outros, que culminou com a criação do Grupo Móvel de Fiscalização. “Destaquei, por último, a urgente necessidade de regulamentação da PEC que estabeleceu o confisco de terras nas quais for flagrado o trabalho forçado”, declarou.
Ao finalizar, o juiz cineasta afirmou que “foi enriquecedor para mim participar do evento, mormente por envolver a academia que, creio, tem um papel fundamental na formação de uma verdadeira consciência cidadã.”
Para o professor Paulo Henrique Costa Mattos, a escravidão de homens e mulheres em pleno século XXI ainda é uma triste herança do século XIX, que atravessou o século XX, sob fortes tentativas de invisibilidade e negacionismo. “Porém, Renato Barbieri nos ajuda com sua Pureza e “Servidão” a compreender que os mais humildes e mais pobres de nossa sociedade têm muito a nos ensinar. Pureza com sua coragem, sua luta e vontade de viver livre ajudou a construir uma abnegada luta contra a escravidão contemporânea, algo que nem mesmo os governos mais conservadores e neoliberais puderam apagar. Se hoje a resiliência, a empatia e alteridade são fundamentais para manter o combate a super exploração do trabalho, a escravidão e ao tratamento desumano, cruel e degradante, essa chama foi acessa e mantida com a força de uma mulher no filme Pureze, proletária e combatente, resistente e que não se dobrou perante a força do dinheiro, da força do agronegócio e das mais brutais violações dos diretos humanos, bem como os depoimentos do filme Servidão, que nos mostram que é possível continuar lutando contra essa barbárie instalada em nosso país, em plena modernidade”, alerta.
A próxima edição do Filosofia e Cinema acontecerá no dia 29 de maio, quando será exibido o filme Labirinto de Papel, que retrata a Guerrilha do Araguaia, dentro do tema Ditadura na Região Norte. A coordenação será do professor Rafael Silva Oliveira, professor da Unirg e terá entre os convidados a professora Luiza Helena Oliveira da Silva – Profa. Dra. da Universidade Federal do Norte do Tocantins. Além de suas pesquisas em semiótica aplicada ao ensino, desenvolve trabalhos relacionados à literatura produzida sobre a ditadura civil-militar no Brasil e a Guerrilha do Araguaia. Também teremos a presença do professor Evandro Costa de Medeiros, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, pedagogo pela UFPA, mestre em educação pela UFSC, doutor em educação pela UFPB, pesquisador e militante da Educação Popular e Educação do Campo, com pesquisas sobre a Escola Florestan Fernandes do MST, Redes Epistêmicas em Educação do Campo e experiência em coordenação pedagógica de projetos de cursos PRONERA, documentarista, diretor do filme Araguaia Campo Sagrado, sobre a Guerrilha do Araguaia e idealizador do Festival Internacional Amazônica de Cinema de Fronteira – CINEFRONT.
Com informações da Ascom/Apug